Uma mãe tenta sempre sorrir. Tenta estar por cima de todas as preocupações, não passar nenhuma delas para os filhos. A vida acontece sem os filhos se aperceberem de quão difícil é fazer a vida acontecer. Será mais tarde que começarão a guardar memórias de dificuldades e isso tem um lado bom.
Uma mãe não pode adoecer. Não pode dar-se ao luxo de se ver limitada numa doença (ou na perspectiva de uma doença) porque tem filhos a depender de si. Uma mãe tem medo que haja um ser malévolo a alimentar-se e a minar as suas entranhas mas para os filhos está tudo como antes. Uma mãe gasta tempo a pensar nos ses... e se morrer, quem toma conta deles? E se morrer, que memórias guardarão eles da mãe com quem tiveram tão pouco tempo de coabitação? E se morrer, o tanto que vai perder do crescimento daquelas pessoas que pôs no mundo e não pôde acompanhar por muito tempo...
Uma mãe afasta os pensamentos maus, auto-tranquiliza-se, não há-de ser nada, isto não é nada, vais ver. Sacode as más energias para trás das costas e pensa no que vai ser o jantar. Ao longe, o horizonte é o mesmo há dias: a bateria de exames que vai fazer e a perspectiva de que pode estar à beira de uma luta feroz. Ou não é nada e tudo não passou de um susto.
Uma mãe, apesar de ser a rainha num pedestal para os filhos que tem, é tão mortal quanto as outras pessoas. E isso nem sempre é bom.
